sábado, 17 de janeiro de 2009

HISTÓRIA.

Sobre lealdade e sangue


'não há princípios nem ideiais na vingança, ela é o ínicio, o meio, e o com certeza o fim.'


Seis silhuetas surgem recortadas contra a parede rochosa e árida do penhasco. O tilintar do metal, passos caractersticos de algo ou alguem que se esconde atrás de placas reluzentes ecoam no fundo do abismo. Um salto, o baque surdo e as pernas arqueadas sob o peso da imponente figura agita o ar parado e insólito da região, algo completamente incomum ali. Ele espera o grupo que em seguida o acompanha, se recompoe, olha para trás, enquanto os outros fazem o mesmo. Sua figura vermelha se destaca no meio de tanta poeira marrom e pedregulhos enormes, todos os amaldiçoados que o viram pela primeira vez antes de tudo olharam para onde devia estar seu rosto, coberto por uma mascara negra e completamente lisa, exceto pelas fendas. As fendas dos olhos revelavam um olhar tao fino, vazio e concentrado que todos que o fitaram desconfiaram de suas intençoes.
Os aspectos de sua aparencia cheiravam a morte e violencia, desde o elmo abaulado adornado com duas grandes protuberancias, cada peça perfeitamente moldada de sua armadura que parecia tingida com o mais vermelho dos sangues, a capa negra, e o mais importante, aquilo que mais transpirava e exalava morte naquela cena, o sabre recurvado encaixado em sua cintura. O cabo rubro-negro de couro, era uma obra-prima, sua mão sobre ele parecia fazer o resto da lamina, agora escondida, ficar completa. Assim como a mão completava o braço a lâmina completava a mão, a beleza mortal daquilo tinha uma força tão atrativa quanto o próprio desejo de morrer daqueles que viviam naqueles tempos conturbados.
Ele avança, e o resto do grupo o segue de perto. O primeiro a sair de trás das rochas é um ser no mínimo curioso. A estatura mediana, ponto em comum com o ser agora a frente, com certeza não lhe dava imponência, coisa que o resto de sua aparência com certeza cumpria o papel com louvor. Duas grandes listras cobriam seus braços, contornado-os e terminando em duas cabeças de serpentes, que sobre a parte de cima da mão pareciam ter movimento, um movimento nao muito convidativo. Sua compleição física era perfeita, parecia moldado na rocha que fazia pano de fundo a sua aparição, e esta era exibida com a ausencia de pano sobre as costas, a qual era coberta por uma vasta quantidade de cabelos compridos e negros como a noite.
Logo depois, seguindo bem de perto e andando naquele meio como se pertencesse a ele, como se o ar ali fizesse parte do seu proprio corpo vinha outro ser, um pouco mais alto que os que agora estavam a sua frente, mas com certeza mais longiquo e fino.
Tinha sobre o corpo uma capa escura, esverdeada, que começava nos ombros em duas grades protuberancias, que se abria revelando uma peça finamente trabalhada que estranhamente parecia ser sua própria pele e ostentava detalhes que o camuflariam perfeitamente em uma floresta ou regiao arbórea. Em sua mão um cajado de madeira retorcida, com uma grande pedra escura na ponta, seu rosto era coberto na parte inferior por uma venda, deixando a mostra apenas seus olhos profundos e verdes e sua longa cabeleira prateada e um par de orelhas estranhamente pontudas. Da mesma maneira que o primeiro a descer o penhasco exalava violencia, o segundo exalava tenacidade, essa terceira figura exalava mistério, e não parecia estar tao longe de casa ali como seus companheiros, que agora vinham logo atrás dele.
O quarto a entrar para o cortejo vinha com passos pesados e barulhentos, sua botas e todo o resto do metal de seu corpo balançava violentamente a cada movimento seu, que eram displicentes a ponto de serem irritantes a quem olhava. Seu corpo, de uma estatura um pouco maior e mais robusto que a média vinha coberto por peças de armadura, mas nao como as de seu companheiro, essas pareciam moldadas com a intenção de parecerem feias e retorcidas, coberta por grandes espinhos, em toda sua extensão.
Seu rosto levemente animalesco e seus olhos centrados, escuros, de predador, percorriam bem abertos tudo a sua volta como se o mundo a sua volta fossem presas a serem golpeadas. Sua mão apoiava no cabo de uma grande e larga espada jogada sobre as costas, o que tornava esse ser uma ameaça constante e bastante perceptivel.
O olhar do quinto da comitiva é bastante similar a do anterior, mas não era tao predativo, pendia mais ao destrutivo. Esse que agora aparecia por detrás das rochas marrons era com certeza o mais atrativo de todos ali, por algum motivo ele parecia ser diferente em todo lugar que estava, indenpendente de onde esteja, e ali ele parecia estar em outro mundo. Seu cabelo curto, espetado e ruivo, seu peitoral e ombreiras trabalhadas em um metal leve, brilhante e com detalhes vermelhos e dourados, similares labaredas, e cada peça de sua vestimenta extremamente limpa e bem costurada, o faziam parecer um nobre, na falta de palavras mais adequadas. Seus olhos amarelados e saltados inspiravam destruição, embora sua aparencia e suas mãos estivessem limpas, algo dizia que não era aconselhavel tirá-lo do sério, assim como todos ali presentes.
Ouve-se um grunhido, um pigarro e uma cusparada atinge o solo seguida por um pé anormalmente grande sobre ela. Esse proximo e ultimo da fila fechava o estranho cortejo como uma grande sombra. Era absurdamente grande, musculoso, e tinha sobre seu corpo peças de pele de urso dispostas displicentemente. Ele exalava, seu cheiro forte ocupava mais espaço que ele proprio, que de longe parecia ter o dobro da altura dos outros, e o triplo da largura. Seus cabelos eram desgrenhados e sua barba era suja, e ambos escorriam pelas costas e peitos largos, e seus olhos eram sisudos, vermelhos como sangue. Ele lembrava um grande urso selvagem e incontrolável, que estranhamente compunha e completava aquele grupo por algum motivo que talvez nem ele mesmo compreendia. Todos ali o temiam e o respeitava, pois sua força já fora testada mais vezes do que eles poderiam contar, e de todos ali era a unica que aparentemente nao tinha limites.
Todos eles tinham pendurados em seus pescoços um estranho medalhao circular, preso por uma corrente negra, e este exibia um simbolo circular, negro, com 8 rubis retangulares distribuidos simetricamente nas bordas ligados por entalhes retos que se encontravam em um rubi redondo no centro.

Dois longos dias de caminhada por entre as pedras, um caminho tortuoso e inconstante, assim como a existência de todos ali até agora. Escondidos entre as paredes que diminuiam de tamanho com a distancia, eles prosseguiram até que ao longe se avistava seu objetivo. Chegaram ao fim do abismo, que no mapa da região que já era bem conhecido por eles, parecia uma enorme cicactriz na terra, começando e fazendo parte da fronteira de Nuvem Negra indo até aquela pequena clareira na selva de pedras ao redor. Por dois mil anos eles nunca sequer passaram perto dali, mas nao se preocupavam com isso, se seu mestre nao tinha interesse que eles estivessem ali proximos, assim seria.
Mais alguns passos e lá estava seu objetivo, uma construção em forma de cubo perfeito, com aproximadamente quatro metros de altura, no meio do nada. Parecia ter brotado do chão e era perfeitamente lisa nos lados, apenas duas figuras ladeavam uma porta de pedra entalhada na lateral que dava para o resto do abismo. Pularam das rochas e cairam na areia fina que circundava o cubo rochoso. As paredes do abismo formavam um circulo perfeito e naquele ponto, ao contrario do ponto de onde desceram, tinham no máximo 10 metros de altura. O sol a pino deixava a cena ofuscante, e todos que tivessem o minimo de consciencia do mundo onde vivia sabia que aqueles ali, seguidores e ostentadores daquele simbolo em seus peitos exposto nao poderiam nem deveriam estar embaixo da luz. Todos que sustentavam aquela imagem necessariamente são seres noturnos, notívagos, todos menos eles, que dentre as aberrações, eram consideradas aberrações maiores ainda, assunto que não vem ao caso nesse momento.
O gigante que vinha na retarguada assim que sente o contato com a areia percebe algo estranho ali. Levanta a cabeça, sacode o cabelo e fareja o ar como um animal.
-O que farejas, Seawulf? - indaga seu companheiro mais próximo.
-Cheiro de gente morta.
-Estranho, e nós nem começamos o serviço. - desdenha com sua voz rasgada o guerreiro com olhos de predador, logo antes de uma risada rouca.
-Calem-se, vocês sabem do que o urso está falando, teremos companhia assim que pegarmos a encomenda. - diz a voz abafada e cortante do mascarado com a armadura vermelha.
-Olha só quem falou depois de tanto tempo calado, tinha medo do que durante a viagem Katetsu? Seth cortou sua lingua?
-Silencio foi a unica coisa que ele ordenou a mais, entao cumpra, ou o farei cumprir por ele.
Eles se olham, a inimizade parece palpavel no espaço entre eles.
-Não perderemos tempo com isso, abriremos essa porta e vamos voltar para Maldição o mais rapido possivel. - Diz, começando a caminhar em direção a construção, o tatuado.
Todos o obeservam se aproximar rapidamente da porta intricada na rocha. Esta descrevia um arco de três metros proximo ao teto da construção, e dos lados duas grandes imagens entalhadas em alto-relevo. Do lado esquerdo, uma foice esculpida em pedra negra, com escritas vermelhas brilhantes na lamina, e oito rubis intrincados em seu cabo. Do lado direito, feita na mesma pedra escura e com as mesmas escritas na lamina e rubis no cabo, uma grande espada com a lamina anormalmente larga. No meio da porta, um simbolo ininteligivel mas bastante comum a eles pulsava em vermelho.

-Imagino que agora não faça mais diferença, mas rastreei a pouco tempo atrás algumas presenças nos observando, seres com capas negras. Presumo que imaginem qual são suas intenções conosco.
-Assim que abrirmos seremos atacados, Seawulf e Pyro, fiquem comigo, o resto já sabe o que fazer. -diz firmemente o samurai.
-Sim senhor, general. -resmunga Kael, dando um passo a frente enquanto o gigante as suas costas olhava atentamente para as bordas do buraco.
Lydan aperta firmemente a foice contra a parede, que cede um pouco e enterra-se na pedra, Kael se rasteja até a espada e faz o mesmo, respirando ruidosamente de maneira tediosa. Faziam isso como se já esivessem cansados de abrir aquele tipo de porta, como se os segredos daqueles simbolos estranhos já nao tivessem importancia para eles.
O estranho de orelhas pontudas se aproxima lentamente da porta, trocando no caminho a pedra na ponta de seu bordão, por um grande rubi losagular com uma inscrição identica a mostrada na rocha.
-Preparados? -pergunta ele, com uma voz estranhamente profunda e suave ao mesmo tempo.
-Quando quiser velhote. -diz impaciente o homem a sua direita, endireitando a lamina da espada entre os espinhos da suas costas.

Ele encosta o grande rubi no simbolo, e todas as escritas vermelhas nas armas ao lado brilham com força. A porta estremece, entra na parede, levanta poeira e se abre lentamente para os lados com muito barulho. Mas alguma coisa mudara no instante que ela abre, as sombras ali dentro eram tao densas que nao se podia ver um palmo a frente, apesar da iluminação direta no local. O ar a volta de todos torna-se denso e o sol começa a desaparecer lentamente, formando uma grande penumbra no local. Um vulto se forma dentro da construção, muitos outros aparecem no alto das paredes, três deles no chão, a direita. Uma voz fraca e rouca sai de dentro da escuridao da porta:
-Vocês nao deveriam estar aqui.
Ouve-se o barulho de arcos sendo armados e apontados, os vultos do alto fazem mira nos viajantes e mais três deles parecem se assomar dentro do cubo.
-Odeio mortos-vivos, o gosto é horrivel. -sussurra as costas do guerreiro de vermelho a voz grave de Seawulf.
-É um mal necessário, nossa missão não pode sofrer atrasos, terminemos com eles aqui mesmo, faça sua parte e divirta-se com os arqueiros, você tambem Pyro.
-Com toda certeza. - dizem os dois em unissono e com um salto repentino, a imensa massa muscular salta para o alto da parede rochosa oposta com enorme facilidade, diferente do seu companheiro que, fica logo atrás do Katetsu e começa uma sequencia de movimentos circulares com as maos e fazendo flutuar a sua frente estranhos pontos de luz vermelha.
Katetsu dirige-se a sombra dentro da construção, observando as outras tres no solo se aproximarem desembainhando longas espadas negras.
-Se toda vez que ouvisse isso ganhasse uma batalha, Nuvem Negra já teria coberto tudo o que se conhece.
Armas sao sacadas dentro da sombra e um vulto passa voando em direção ao elfo que se afastava da porta vagarosamente. Uma arma enorme é brandida e descreve um arco, batendo a ponta da sua lamina no chao com força, o vulto fora cortado ao meio e seu corpo se desfaz em uma grande nuvem de cinzas grossa. O tatuado toma a frente para entrar no cubo, e é obrigado a desviar rapidamente de um obelisco de dois metros de altura que lhe é arremessado do interior com um movimento mais rapido que a surpresa do seu companheiro ao lado. Um vulto aparece a porta logo atrás do objeto arremessado e aproveitando-se da distração, golpeia Kael no braço logo encima de uma placa metálica, que libera uma nuvem de faíscas no ar.
Ouve-se grunhidos vindos de cima das paredes e pode-se ver o gigante golpeiando com as mãos nuas os diversos arqueiros que ali estavam, fazendo-os voar pelos ares. Os pontos luminosos conjuradaos por Pyro começam a se movimentar rapidamente em todas as direções, atigindo os arqueiros que os cercavam aleatoriamente e gerando grandes labaredas, e uma grande nuvem de cinzas.
O espadachim espera, imovel, a mao na bainha pronta para sacar a espada enquanto dois dos três vem em sua direção, segurando suas laminas acima da cabeça enquanto o outro se separa e vai pra cima do tatuado, que se levanta do chao com um salto rapido e o espera atacar, paciente.
O primeiro golpe é desferido, e Katetsu pende para a esquerda livrando-se dele, sacando a arma com uma velocidade incrivel e desferindo um golpe certeiro no pescoço do oponente, fazendo desaparecer assim como seu companheiro em uma nuvem de cinzas. O segundo golpeia, e ele por pouco nao consegue usar a parte de trás de seu sabre para bloquear o ataque, que estranhamente o desequilibra.
"Não sao mortos-vivos comuns, tem algo de errado com a força desses golpes" - pensa ele.
O que se desprende do grupo vai para cima do tatuado, desacelerando quando chega perto e rodando sua espada para tentar atingi-lo por baixo, em vão. Com extrema agilidade e tranquilidade ele joga seu corpo para trás, e aproveitando-se do movimento desfere uma volta no seu corpo e um chute lateral atinge a barriga do seu oponente, que estava de guarda aberta, fazendo-o virar de costas e ficar vulneravel, recebendo uma serie de socos que parecem minar sua resistencia acabando por ser atravessado pelo ultimo da sequencia, e desaparecendo no ar como seus companheiros.
Kael luta com dois ao mesmo tempo em frente a porta, defendendo-se como pode dos golpes rapidos e bem colocados dos dois vultos que o cercam. Lydan, corre em sua direção e salta em cima do mais próximo, atingindo com uma joelhada na cabeça e o derrubando-o sobre seu companheiro, que é empurrado e bate com força na foice entalhada na parede, sendo logo golpeado oportunamente por Kael e desaparecendo. Lydan golpeia o que derrubou, prendendo seus braços sob suas pernas e fazendo-o virar cinzas a cada golpe, até que começa a socar um amontoado de poeira no chão.
O samurai enquanto isso troca alguns poucos golpes com seu oponente terminando por fim atigindo a espada negra que o vulto carregava, partindo sua lamina logo acima do cabo, e finaliza o embate com um golpe que lhe atravessa o peito de cima pra baixo.
Todos olham para os lados e veem Pyro encostado em uma rocha e parecendo se deliciar com uma cena que acontece acima das suas cabeças. Seawulf golpeiava um vulto com seu companheiro, rodando o corpo que se esfacelava no ar e fazendo os dois virarem uma grande nuvem de cinzas com um baque surdo.
-Como eu disse, não dá pra comer essa porcaria. -diz ele, que começa a bater as duas mãos para se livrar da sujeira.
-Um dia você vai se arrepender de comer seus inimigos, assim como eu já me arrependi.
-Haha! Meu estômago é forte como aço, Kael.
-Espero que seja mesmo. -interrompe o elfo, que desaparecera durante a luta e agora se encontra abaixado sobre os restos de um dos oponentes, onde encontra na capa surrada um simbolo e o mostra para os companheiros.
-Já vi esse simbolo antes, há muito tempo atrás quando assassinei um dos Lordes Negros na estrada para Niruandil, ele te diz algo?
- diz o tatuado, fitando a figura mostrada pelo companheiro.
-Sem dúvida sim, mas a ligação com esses mortos-vivos aqui é obscura ainda.
-A força de seus golpes não era algo que se via todo dia, apesar da pouca resistência, acredito que tenha sido uma espécie de teste, mas também não creio que estejam acostumados a lutar abertamente, pelo modo como atacaram. - interpela Katetsu.
-Tens razão, vou levar comigo uma dessas capas, terei algumas perguntas para fazer a Seth quando retornarmos. A penumbra se dissipa, recuperemos o objeto de desejo de nosso mestre.
Illidan recolhe a capa, dobra e a amarra no cinto. Seawulf desce do paredão com um salto, levanta muita areia na queda, e diz:
-Vou vigiar a entrada, entrem vocês.
-Venha comigo Lydan, vamos recolher a urna, venha também Pyro, precisaremos de luz lá dentro.
O guerreiro e o tatuado se postam na entrada, esperando o ruivo desencostar da rocha e se dirigir até eles. Chegando na porta, ele bate as mãos e surge sobre a palma de sua mão direita uma chama flutuante, equivalente a uma tocha.
-Eu devo ter nascido com cara de pederneira mesmo, aproveitem o ar puro aí fora, eu odeio esses criadouros de mofo. - diz ele, e os três adentram o aposento.
Entram em uma sala quadrada, com o exato cheiro de mofo citado anteriormente. Agora iluminada pela chama, pode se ver no seu centro, sobre um apoio retangular de pedra lisa, uma urna negra perfeitamente lisa, cercada agora por três obeliscos de pedra, e uma reentrancia aonde deveria estar o quarto, que fora arremessado para fora por um dos vultos. Eles se aproximam dela, e ouvem da porta a voz baixa de Illidan, que observava tudo com interesse:
-Podem encostar nela, não há nada demais nessa construção, ela nem mesmo tinha bloqueios para ser localizada a olhos nus. Aparentemente nem mesmo estava a mostra até pouco tempo atrás, desconfio que esta construção estava enterrada, e como podem ver, a muito tempo.
-Uma boa explicação para o fato de nunca termos tido notícia dela. –conclui o ruivo.
-Não seja inocente, existem infinitas informações que nunca teremos chance de visualizar, o que é uma pena.
-Sua sede de conhecimento só não deve ser maior que a minha de diversão.
-Ou a minha de sangue. – diz Kael, que agora se junta ao druida, enquanto Katetsu se abaixa e olha de perto a urna, procurando algum tipo de armadilha
-Já disse general, não há perigo aqui.
-Há sempre perigo, mesmo que a longo prazo, não acredita em nenhum efeito consequente de tocarmos essa rocha negra?
-Certa vez ouvi que esse tipo de rocha são fragmentos de deuses a muito perdidos, mas nunca encontrei nada que confirmasse algo do gênero. Não acredito que essa seja prejudicial, não senti nada ao vê-la.
-Então venha Lydan, levantemos ela juntos.
Lydan, que esperava de pé ao lado de Pyro, aproximou-se e encostou na urna. Um de cada lado, eles seguraram firmes nas laterais e a erguem. O ruivo ilumina o caminho até a entrada, e os dois passaram no arco sob os olhares curiosos de seus três companheiros.
-Eu levo ela até o mestre, podem deixar. –disse o gigante, abrindo os braços pra receber o peso do arfefato nas mãos.
Illidan retira um véu negro do cinto e cobre a peça.
-Subiremos o penhasco no mesmo ponto de descida, usemos novamente a cobertura dele como proteção. Kael, você na retaguarda, Pyro, atrás do urso e sempre atento nas paredes.
-Mesmo depois de tanto tempo ainda me indago porque me rebaixo a te obedecer esse tipo de ordem.
Katetsu olha diretamente pros olhos de predador do guerreiro que se posta a sua frente. A tensão volta a permear o grupo, e alguns segundos de silencio depois a voz do general volta a cena, mais aspera que o normal:
-Primeiro lembre-se do fato que seu mestre é o mesmo que o meu, você está subordinado a ele e as denominações que ele achar mais conveniente para o funcionamento desse grupo. Segundo, nós não estamos aqui pra amendrotar velhos, mulheres e crianças, isso não é uma missão de simples balburdia, logo sua presença aqui é para garantir uma arma a mais ao nosso lado, redima-se a isso.
-Só tenho algo a te dizer, cão de Seth. Um dia você vai compreender que o mundo não é preto e branco, e que quem quer viver acaba fazendo o que não acha correto, eu dou risada quando você se presta a se suicidar pela falta de honra, viver por um punhado de regras que você chama de código de honra é tão util no desespero quanto um copo de agua em um incendio, é tolice.
-Basta vocês dois, essa discussão já aconteceu vezes suficientes para entenderem que não existe conclusão que satisfaça os dois lados, lembrem-se da missão. – interpela Illidan, entrando na linha de visão dos dois e olhando fixamente nos olhos de cada um.
-Agora que ia ficar interessante, dois mil anos e nunca me canso de ver esses dois discutirem por mixaria.
-Concordo com você, fogueira. – diz por traz da urna o urso, rindo secamente.
-Chega de insinuações futéis, comecemos o caminho de volta, e as palavras fúteis podem ficar guardadas nas bocas até chegarmos perto da estrada pra casa. – diz Illidan, lançando um olhar enviesado para Kael, que exibia um sorriso malicioso no rosto, e virando para escalar as rochas as suas costas.
O caminho de volta pra casa começara silenciosamente, e assim se manteve até o fim.

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Sobre amor e morte


Tinha me esquecido de sua velocidade e de sua frieza. Estaria ela determinada a me matar por Seth? Assim como ela é minha fraqueza, eu sou a dela. Nosso orgulho nos levará à morte, e minha impiedosidade milenar sera testada quando a tiver sob a ameaça de minha lâmina. Deixo os outros para tras, correndo em direção a fonte dos disparos. Ate mesmo o impulsivo Kael entende a situação, e contenta-se em não sacar a espada dessa vez. Pilastras caem a minha volta, destruídas pelo impacto dos disparos. Ela não erraria a esse distância, assim como eu, ela quer me ver uma ultima vez. A máscara que escolhi como rosto cai, e a essa distancia ja consigo ver o brilho agudo de seus olhos, os estampidos estao mais altos, os clarões mais fortes. Calculo o salto, e consigo ultrapassar os escombros que ela usou como esconderijo. Sinto seus movimentos às minhas costas, ela sabe que está perto, perigosamente perto.
Três passadas eu a alcanço, e ela erra outro tiro intencionalmente antes que eu atinja o rifle, derrubando-o. Finalmente posso ver ser rosto manchado de lagrimas, o que o torna indescritivelmente belo, intocável.
-Mate-me, pois não conseguirei continuar se tiver seu sangue em minha mãos. - digo, curvando-me diante daquela que é o fogo da minha alma morta.
-Nao poderei fazê-lo, Katetsu, prefiro a segunda morte do que vê-lo sangrar.
Pela primeira vez desde que fui transformado, sinto meus olhos molhados. Tal momento de distração foi um erro. Passadas rápidas vindas do escuro. Ártemi, sem reação, e arrebatada ao chão com violencia com meu empurão. Por milímetros a fria lâmina que agora atravessa meu peito não a atinge. Uma risada fina preenche o silêncio, e eu a reconheço na hora.
-Agora poderá morrer feliz "Dumah", mas saiba que era a única maneira de você me derrotar.
-Vá para o inferno irmão, entenda que não fui eu quem o matou, e sim o seu amor.
-Então morrerei feliz.
O rosto da Caçadora nunca esteve tão triste.

"Dumah" se levanta, retira a espada cravada nas costas do general com um solavanco e se pronucia a seus companheiros do outro lado do salão.
-Então é assim, a história nao muda, os fortes e honrados morrem antes por motivos fracos e pífios.
Ártemi chora sobre o corpo agora inerte do general, lança um olhar fulminante para o assassino, mas se contem ao pegar o rifle no chão. Seu rosto se modifica do choro à determinação numa velocidade impressionante. Ela levanta, encara todos os presentes, pega o cadáver pelos braços e o arrasta pelo portão no fim do salão. Lydan se aproxima correndo, mas é barrado pela lâmina de Dumah apontada para seu rosto.
-Você realmente acha que eu temo esse pedaço de metal na sua mão, seu bastardo?
-Claro que não, nunca tive oportunidade de te mostrar o quão gelada é a mão da morte vinda no fio dessas lâminas, mas agora vocês são meros foragidos, e a irmandade cairá sobre vocês como uma águia em um coelho.
-É o seu melhor, covarde? Mata um de nós pelas costas e acha que vai sair vivo daqui? Eu vou te mostrar como a dor dos ossos da minha mão no seu rosto pode superar seus pedaços de metal. Eu vou te matar com as mãos limpas, e suas visceras irão pulsar de dor em cada golpe que eu acertar, eu olho agora para um homem morto, eu olho agora para um carcaça, um reles amontoado de orgãos que logo não terão mais forma definida, eu vou te matar sozinho, e vou te ensinar a morrer como o cão que aceita ser. Você agora é, e sempre foi, apenas o receptáculo para o sangue que irá banhar minhas mãos.

Kael faz questão de dar um passo adiante, o ruido de sua bota ecoa pelo salão quebrando o silencio que se abatera sob os dois a sua frente. O portão se fecha, Ártemi leva o corpo do companheiro deles para fora de suas vistas, mas algo ali dizia que era justamente com ela que ele deveria estar, tanto que nenhum deles se opõe. Todos sabem que a lealdade dela foi testada e decidida no momento que a vida de Katetsu se esvaia na sua frente, todos sabiam que ela ainda tinha algo a fazer por eles, só nao sabiam o quê. O urso segura o ombro de seu companheiro, sua raiva estranhamente contida revela que aquela luta não era deles. Todos se mantem onde estão e observam do meio do salão o monge debater com o assassino daquele que dentre eles, o considerava como um irmão de almas, um braço direito infalível. Eles vêem Lydan terminar sua fala com os punhos cerrados, e podem ver nos olhos de "Dumah" a incerteza da morte se abater sobre ele. Ele veio sozinho porque sabia que o duelo entre os dois não seria interferido por ninguem, ele estava marcado desde o primeiro momento que os olhos daqueles dois se encontraram, ódio instantaneo e massivo, acumulado e reprimido por dois milênios. Mas agora a certeza de que suas capacidades seriam suficientes para tal momento falha. A imagem é clara, Lydan parece um tigre pronto pra abater sua presa.

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Sobre Cães e Generais

O General adentra a taverna. Vazia pelo tarde da hora, as mesas toscas se escondem à sombra de castiçais com velas prestes a apagar. Apenas um ponto luminoso forte brilha ao fundo. Sobre o balcão encontra-se um lampião, e este ilumina um homem. Mas nao um homem comum, este tem no rosto o pesar dos anos, e sob seus olhos fundos e sobrancelhas grossas se esconde o brilho de muitas derrotas e vitórias sangrentas.
Este encara o oriental, e seus olhos treinados passam pela espada e repousam em sua máscara, encarando fixamente os orifícios onde estariam os olhos do guerreiro. Diz com sua voz grave:
-O que faz aqui? Cansou de ser um dos cães de Seth?
-Minha lealdade só diz respeito a mim e a meus inimigos, ainda gostaria de saber onde ela repousa?
-Ha! O mundo nao é tão preto e branco como pensas, amigos podem se tornar inimigos muito rapidamente, e vice-versa. Talvez essa máscara te impeça de enxergar os tons cinzas.
O guerreiro ri, como de costume acaricia a bainha vermelha e firma a mão no cabo daquela que dá sentido à sua vida.
-Talvez deva lhe ensinar os tons vermelhos que ditam a vida de um general.
-Esses tons vermelhos é de conhecimento comum a todos que vivem nessa éra conturbada, cria do Sugador, e o conhecimento sobre a morte está além de qualquer conhecimento humano.
o general estaca, sua humanidade lhe foi retirada junto com sua honra, e esta deveria ser lavada com o sangue daqueles que ja morreram. O gosto de sangue inunda sua boca, a sede ainda o incomoda em noites como essa.
-Se esta conversa fosse entre dois humanos, eu poderia dar-te um resposta a altura.
-Diga-me o que quer, "general", e talvez possa me privar de sua agradável presença.
Aproximando-se do balcão e rescontando-se e uma mesa, diz:
-Traga-me mantimentos para quatro pessoas, que dure um mês.
Sorrindo ironicamente sob a barba imunda,o tavereiro levanta-se lentamente e sai do alcance da luz, o que nao faz diferença para o vampiro, seus olhos vermelhos o acompanham na escuridão com a mesma facilidade.
O vento uiva la fora, um leve rangido e a porta se abre. Lydan, sem entrar no aposento diz:
-O Mil Faces rastreou o velho, ele está na cidade.
-Diga para achá-lo, resolveremos esse assunto esta noite.
O tatuado dá as costas e segue seu caminho. Um baque surdo as costas chama a atenção de Katetsu, e sobre o balcao se encontra um saco grande e pesado o suficiente para dois cavalos.
-Aqui está, "senhor da morte", creio ser o suficiente.
Livrando o movel do enorme peso com um rangido, levanta o saco com uma das mãos e equilibrando-o sobre o ombro direito, lança sobre a mesa algumas moedas douradas.
-Agradeço, velho.
-Hum! Creio que se tivesse a décima parte de tua idade já estaria enterrado sob essa taverna.
Virando as costas e saindo para a escura e gélida rua, responde:
-Morreria a morte da palha na metade desse tempo.
A porta bate secamente apos sua saída.

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Sobre

[...]
-Desde então eu os fiz dançar o meu espetáculo de horror. O prazer de criar soldados tão obscuros e exóticos a partir dos raios de luz que tanto me incodam só não supera meu crescente receio. Sua força cresce a olhos vistos e a inveja salta dos olhos de seus irmãos, as consequências desse fato culminará em momentos turbulentos.
Minha experiência deu certo, mas a força deles é incontrolável, embora ainda não atinja níveis preocupantes, deve ser condia.
-O que devo fazer, meu senhor? Jogá-los nas garras da inveja da irmandade?
-Não seja ingênuo "Dumah", a inveja só mata quem a sente; ela é fraqueza, e não força. Mande-os para os braços do ódio, chame os behelits. Os senhores da Grande Raiva do Sétimo Círculo trarão paz à minha consciência.
-Mas, meu senhor...
-Não seja tolo soldado, eu os dominei uma vez e os dominarei quantas vezes precisar.
-Como desejar, milorde.
O guerreiro se levanta, gira seu corpo e segue pelo saguão. Seus passos ecoam pelo espaço até que ele atravessa o grande portal.
O silêncio domina por alguns minutos até que a taça, agora vazia, é deixada no braço do trono. A mão branca que a segurava, agora livre, pousa na testa de Seth. Com os olhos fechados, ele susurra para o nada.
- A primeira nota da partitura foi executada, agora vejamos se meus instrumentos estão afinados [...]

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Sobre ser, não ser, entre estar e permanecer.
"Lutas são apenas pretextos. O resultado do combate se faz na primeira troca de olhares, antes mesmo do primeiro suspiro antes do salto em direção ao abismo, o suicida sabe, sabe que seu fim é inevitável e que o futuro não é um lance de dados, e sim uma troca de inevitabilidades."
_Lydan

[...]
-Tem alguma coisa muito errada, desde o começo sabia que seria assim, mas é complicado acreditar no que vejo agora. Aqui estamos nós, enfrentando o ser mais forte do mundo, nossa estrada começou com sangue imortal derramado e vai ser terminada assim, mas o que fazemos agora é burrice. Tudo bem que a vingança nos moveu até aqui, mas e a partir de agora? Juro que vendo aquele ser lá embaixo lutando, quase me arrependo de ter sido tão boêmio e despreocupado com o que me cercava, quase.
A luz que ele controla é sólida, ele é tão rápido que poderia me cortar em dois antes que eu pudesse dizer "ai", e isso não é pouca coisa. E tão rapido também é o medo que vem bater na minha porta agora. Nosso caminho realmente precisa ser assim? Meia dúzia de palavras e toda a confiança que eu tenho na força da nossa vingança, na estrada sangüinolenta que o Capitão nos conduz vira cinzas. Ele golpeia, e o sangue dos meus companheiros jorra e pinta toda a praça, uma arte bem abstrata por sinal, e nada sensível.
Ártemi no chão, a mais ágil de nós nem tenha percebido que tenha levado aquele baque, e vejo pouca esperança até mesmo pro Urso, que até então parecia ter uma força indomável, eu vejo um elfo com uma armadura branca reluzente e cheia de brilhantes aparar seus golpes com uma facilidade monstruosa. Mas ainda agora vejo esperança, nossa espada grita nas mãos do Capitão, essa sim é nossa única arma confiável contra esses imortais e eu a vejo nas melhores mãos. Ele luta com a mente, sua arma real é a estratégia escondida sob a máscara, e apesar do meu medo, percebo que aquele bastardo que se veste de vermelho tem algo a mais, ele tem a nós, ele é a cabeça do nosso corpo, a mira dos nossos golpes, nossa máquina de guerra vai acabar com tudo isso, e no fim nós estaremos olhando para baixo e cuspindo contra os que blasfemam com hipocrisia para nós. Mas agora não é uma boa hora pra falar asneiras, vou sair daqui antes que minha chama se apague.

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