quarta-feira, 19 de agosto de 2009

HISTÓRIA. [2]

Sobre a mão que te alimenta

O grito ecoou pela torre. Kael, ferido quase mortalmente, se encosta na parede de pedra fria
á sua esquerda. O sangue escorre pelo seu rosto, ele o limpa com os trapos que guardara no bolso
da taverna de "midel". O simbolo da cidade se mancha quando encosta no rosto do guerreiro.
Sua visão, embaçada pelo cansaço e pelo sangue que esvai do ferimento em sua perna.
-Maldito velho surdo. Se a idade não o matar antes dele descer essas escadas, eu mesmo vou
desencarná-lo.
-Não será necessário, estamos frente à nosso pior inimigo, ele se imcubirá do resto da minha vida.
A figura retorcida de Ephestus surge pelo portal de pedra. A escada de metal fora forjada pelo
artesão a tanto tempo que o mesmo a olha com desconfiança. Seu corpo agora envelhecido hesita
em começar a descida.
Seus musculos que a muito trabalhara sem hesitação nas forjas de Seth agora não consegue sustentá-lo com firmeza. Seu cabelo a muito se fora, e seu rosto escovado e branco pode ser visto através da fenda de seu manto negro, que o cobre por inteiro.
-Cale-se velho, seu pessimismo deprime até mesmo a mim. Eu não perdi um pedaço da minha perna atoa para você se recusar a nos seguir.
-Vejo que meu velho companheiro não esteve preocupado selecionando suas companhias pela educação. Como ele está, depois de tanto tempo?
-Velho, e acabado, assim como você. Arghh!
A dor na sua perna se aguça cada vez mais, pedaços de metal estilhaçados continuam cortando-a por dentro.
-Parece que meus antigos brinquedos ainda mantem seu, digamos assim, viço inicial?
-Se não descer logo, seus brinquedos vão matar a todos, inclusive seu adorado amiguinho bastardo.
-Não me surpreenderia, tendo em vista que foram feitos pra impedir a entrada do ser mais forte dessa parte do mundo. Na verdade, se eu fui capaz de forjar algo capaz de matar meu antigo general, eu morreria feliz ao cair dessa maldita escada. Meu maior erro de projeto foi não imaginar que demoraria tanto tempo para surgir alguem capaz de enfrentá-lo de novo, minhas malditas pernas doem como o inferno só de pensar em mové-las até aí embaixo.
-Você pode morrer a vontade depois que nos entregar o que viemos buscar. Se quiser, pode jogá-la daí de cima e nos poupar de sua hospitalidade.
-Tão jovem, e tão inocente. Eu nunca a esconderia junto a mim, até porque nao me teria utilidade, nunca fui bom em manejar lâminas.
-O pior é viver dois mil anos e ser chamado assim ainda, quanto tempo é preciso sobreviver nessa montanha de lixo antes de se obter algum respeito?
-Não sei, me diga você, que já desceu aqui pra importunar meu tranquilo sono com suas palavras, digamos assim, indóceis.
-Velho..
-Tudo bem, eu te acompanharei, e indicarei à sua horda onde está a menina dos meus olhos, se é só nisso que pensam.

A figura vestida de negro completa o caminho, cambaleante, até a escada prateada. Sua mão agora magra e esbranquiçada segura oscilante o metal, e movimento por movimento, ele começa a descida, e oscilante como começou, a termina.

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Sobre Atos e Desculpas


O tempo já claro, sol alto, onipresente. Para trás, na estrada mais uma cidade, e mais dúvidas.Um suave cheiro de grama molhada invade o ar, acompanhando um longo silêncio ligeiramente interrompido pelos passos dos generais caminhando pela estrada de terra.
Ao longe se vê uma comitiva, cinco cavaleiros bem armados se aproximam correndo, até que param seus cavalos fatigados, pisoteando nervosos o chão, na frente deles.
_Monstros! Pagarão pelas vidas que tiraram, nossa honra será lavada com sangue! - Brada um guerreiro de armadura azul celeste
_Acho que é com você, Seawulf - diz Pyro em tom ardente.
Lydan interrompe, já impaciente com a situação:
_Acabemos logo com isso e continuemos nossos passos, cansei dessas interrupções.
_Aqui seus restos ficarão, bestas! - grita o companheiro do cavaleiro se aproximando do monge com um machado em punho, seu cavalo estanca ao ouvir a voz do predador, que ergue os braços e o afasta com gestos grosseiros.
_Nos chamam de bestas mas se aproximam de nós, que liquidamos grande parte de seus companheiros em seu próprio território e ainda nos desafiam para um combate a limpo, sem qualquer emboscada ou armadilha? Ao menos fossem em igual quantidade, e não com um a menos que nós! Hahahaha, as bestas aqui são vocês!
_ Basta Kael, ao menos foram honrados. - Katetsu diz com sua voz abafada.
O líder do grupo da Guarda irrompe raivoso:
_Um combate até a morte, sem fuga ou misericórdia, um embate final em nome da bondade e da justiça!
_Ou em nome do ódio e da vingança - retruca o samurai levando a mão ao cabo rubro negro. O metal grita por um instante dentro da bainha e é interrompido por uma risada alta e poderosa vinda do Urso.
_HAHAHAHAHAHAHA! Me poupem dessa! Ódio? Bondade? Justiça? Mal? Quanta porcaria! Infelizes! Não é por isso que lutam!Pode parar com as desculpas que inventam e alimentam para continuarem com suas vidinhas, até parece que o que fazem e dizem tem a ver com sua vida e ambição.Lutamos porque é o que sabemos fazer e o que fazemos melhor. Se fosse um maldito poeta eu enviaria uma carta cheia de rimas a Seth dizendo o quanto eu não gosto daquela cara pálida! Mas, pela grande roda, eu não sou! Eu sou um guerreiro e guerra eu faço, e eu gosto disso.Eu não fico me iludindo, dizendo que sou honrado ou que eu mato porque preciso. Eu mato porque quero. Mato porque eu gosto do som de ossos estalando a cada pancada, enquanto o gosto e o cheiro de sangue poluem o ar. Mato por causa do silêncio que aparece quando meu primeiro golpe é dado, quebrado pelos gritos de desespero, ou urros de dor, enquanto eu elimino todo o resto. Mato porque gosto e eu não tento ser mais do que sou, não importa aos olhos de quem!Se você, de armadura azul, mágicas e truques, bravo guerreiro, enviado de deus ou o que quer que seja, tem algum problema comigo ou com alguém, guarde suas palavras difíceis para sua laia! Aqui o que você precisa é de um braço forte, uma arma e muita sorte, pois independente do que você diz no fim dá na mesma; um morre e o outro vive. Cantro ou mudo, o sangue de alguém vai encharcar o chão e saciar a sede da terra.
Eu sei o que faço e o que quero, e sei como resolver um problema ou passar uma mensagem.
E eu tenho aqui nas minhas mãos as ferramentas para isso, agora me deixe usar algumas delas pra te falar algo.

E em seguida se ouviu um silêncio, um baque surdo, gritos, ossos se quebrando, aço e pele se rasgando e o cheiro e o gosto de sangue se misturando ao ar.

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[..]-A algum tempo sinto meus ossos ocos, minha visão cada dia mais enegrecida mostra que meu corpo já se recusa a manipular a lâmina que deu sentido a toda
a minha existência falida. Lutei contra Seth três vezes, e três vezes fugi como um cão ao ser atingido por seus golpes.
-Corte o papo, dessa parte já sabemos. _diz Kael, impaciente.
-Aprenda a ouvir quem tem mais a oferecer a si mesmo do que você próprio. Aviso a vocês, que o que fazem é loucura simples e mal planejada, apenas essa arma
no seu cinto nao deterá ele no estado em que se encontra, nem mesmo o fará pestanejar em atacá-los sem a minima piedade. Isso que você tem as costas é um
esqueleto de uma possível arma suprema, capaz de ferir qualquer ser consciente. Eu sei disso porque vi a original em ação, eu vi porque fui atingido por ela
repetidas vezes, e por conta dela eu recuei, nada mais nada menos.
Se querem se equivaler a Seth primeiro revertam sua condição de vampiro, vocês não podem simplesmente enfrentá-lo no auge de seus poderes. Existe algo no
passado que ele irá procurar, e no passado eu lhes garanto que irão ter alguma chance com ele. Não sei a opéra que ele pretende encenar, mas sei seus
instrumentos, o conheço bem. Eu fui seu primeiro general, o primeiro convertido, se você agora é o General Vermelho, antes de você houve um General Negro,
e esse era meu titulo.
-Nossa classe morreu faz tempo, já não vejo sentido em me encarar como um companheiro de armas, nossos estilos são parecidos, mas já não existe ligação entre
nós.
-Não me encare como um sentimental Katetsu, apenas quis te lembrar que nossas histórias são parecidas, você apenas tem uma chance mais clara de cumprir um
desejo mutuo. A necessidade de ver tudo destruido tem um motivo, e cheguei perto de descobri-lo. Não é apenas dominação, ele quer tudo sob seu manto para
apenas sufocar toda essa parte do mundo. Visitei o templo ao qual estão se dirigindo, não vi nenhuma maravilha lá, apenas um emaranhado de respostas futéis
ao meu intento. Ele é nilista, sua racionalidade se volta ao reducionismo de tudo a uma sombra de poeira, uma vingança muito terrível o atinge, assim como
atinge a vocês agora, e cuidado com ela, eu sei do que estou falando. Ele se ama e se odeia e esses sentimentos precisam de uma vazão, eu sei disso.
-Eu acho que sei do que está falando, Tsurugui, já percebi várias vezes sua força abalada após algumas viagens que ele nunca reveleva o destino, mas era tão
sutil que duvido que alguem aqui tenha percebido tambem. _interpela o druida.
-Me desculpe por não ser um desocupado lambedor de feridas, mas eu nunca teria percebido mesmo, tinha preocupações maiores na Corte Negra.
-Suas preocupações maiores se resumem a noites futéis com vampiras sedentas de glória, elas dormiriam entre elas se isso as desse algum prestígio, agora
cale-se e siga o conselho do nosso anfitrião, aprenda a ouvir. _diz com a voz seca o Samurai.
-Hum, olha quem fala de se deitar com ..
Mas Pyro nao terminou sua frase, Katetsu desembainhara sua espada rapidamente, e antes que todos percebessem sua lamina ameaçava o pescoço do seu companheiro.
-Uma palavra sobre ela e teremos problemas internos, não aceitarei opiniões de mais ninguém sobre esse assunto. Guarde suas palavras futeis para quem as
mereça, estou tentando matar nosso antigo mestre aqui.
-Estamos Katetsu, estamos. _diz Lydan, e ao fundo se ouve o grunhir de desdenho do Urso, e uma risada mal contida de Kael.
-Vocês, manipuladores de elementos, sempre se perdem em seus objetivos, essa história eu já conheço.
-Continue Tsurugui, por gentileza. _diz o samurai, embainhando sua espada e olhando diretamente para o senhor sentado a sua frente.
-Meu sutil erro se resume nisso, sempre me preocupei em acumular força e usar os pontos fracos mais aparentes contra ele, mas isso não basta. Acredito que
exista um artefato temporal, um portão para o passado naquele templo confuso, mas não estava em boas condições quando lá estive para me preocupar com tal
objeto. E acredito que a fraqueza percebida sabiamente pelo druida esteja relacionado a isso.
-Se ele apresentava traços de diminuição de sua força, mas depois eles sumiam, pode-se concluir que essas viagens o enfraqueciam temporiarimente.
-Sim Serpente das sombras, arrisco dizer que até reverta sua condição de sugador de essencias, acredito que ele retorne a tempos anteriores a maldição que
caiu sobre ele.
-Uma ótima chance de nos vingarmos dele, aliás, pelo que nos disse, única. Mas porque ele nao alteria o passado?
-Essa é uma pergunta que terão que descobrir sozinhos meus jovens generais, minha capacidade só me levou até aí, e aquele templo com certeza não atrai
revisitas.
Um silêncio se abateu sobre a sala. Todos ali sabiam que as histórias envolvendo tal lugar sempre os levaram pra longe dali, até porque o Circulo dos Nove
Cavaleiros se encontrava no meio do caminho, e ali se encontrava a maior resistência as hordas negras de Seth. Lendas envolvendo cavaleiros dourados e um
mentor de protetores da bondade e justiça rondavam o local, mas nenhuma informação certa havia chegado aos ouvidos deles durante dois milenios.

----------------------------(continuação, precisa organizar)
-Seth achava quenvoltando ao tempo mudaria o presente, e que este poderia ser moldado de acordo com seus desejos enviesados. Mas a descoberta dos meios para tal foi de longe a maior decepção de sua existência.
-Depois de nós, claro. _insinua Pyro.
-Não seja ridiculo, a historia de voces até agora nao passa de um leve incomodo na dele. Está certo que ele os subestimou, mas ele por si mesmo não o faria. O artefato traz neblina ao raciocinio e julgamento. A arma não só tem vontade e mente proprias mas tambem controla seu usuário, fazendo-o de alguma maneira cumprir seus desejos ou desviando seus caminhos para si mesma. Ela é o ápice da corrupção pelo poder. Seu proprietário se torna tão poderoso que dificilmente desconfia que está sendo manipulado.
-Não passamos de frutos dessa neblina no fim das contas, produtos de uma arma que pode matar qualquer um.
-Sim, General Vermelho, assim como eu e Ephestus, vocês são consequencias de algum desejo obscuro da arma.
-É provado que apenas um pode empunhá-la, se Seth cair, ela provavelmente elegerá outro dono.
-Essa é a questão que me intrigou a ponto de enfrentar o ser mais forte dessa parte do mundo, eu sempre achei que ela havia me escolhido como seu novo dono pela ansia que me causava olhar para ela nas mãos dele, mas a maestria com que ele a utilizou contra mim e as cicatrizes que seus golpes deixaram em meu corpo indicam que não. Mas o fato de outro representante da minha classe estar postado aqui na minha frente me encoraja a dizer que ela tem predileção por nossos métodos.
-Estrangeiros lutando pela terra alheia, interessante. _diz o druida, do canto do aposento.
-Todos aqui foram adestrados, somos cães servindo e assumindo um propósito alheio, quando em suas existências voces lutaram por algo que fosse realmente de seu real interesse?
-Um cão latindo para a matilha, talvez devessemos adrestrá-lo também. _rosna Kael, firmando a mão no cabo da espada a suas costas.
-Pense duas vezes, sua espada está acostumada a partir carne mais fraca, predador, e eu te garanto que a minha está um pouco além da sua lingua bifurcada. _interpela Tsurugui_ Já enfrentei aquele que voces lambiam os pés até pouco tempo atrás algumas vezes, e aqui estou na sua frente.
-Vou mostrar..
Kael, com a mão no cabo da espada, tenta empurrar Lydan para o lado, mas falha. Um giro rápido e sua mão é torcida pela mão do tatuado, e seu joelho bate secamente no chao no momento que a dor não o deixa mais permanecer em pé.
-Controle-se, demonstre respeito ao menos uma vez na vida. _diz Lydan, olhando para a nuca de Kael.
-Bastardo, traidor..
-Basta. _diz o samurai, sacando sua espada e encostando-a agora no pescoço do guerreiro ajoelhado ao seu lado.

O silencio percorre a sala, Kael desiste e se desvencilha da mão do tatuado. Levanta-se ainda com a espada de Katetsu no pescoço, e diz:
-Você sempre foi o mais adestrado de todos, mesmo que seja parecido com Tsurugui na aparencia, voce é um simples cão, ele apesar de ser um bastardo tem mais atitude que você.
-Se eu não desconfiasse que voce ainda terá alguma função, minha lamina já teria cortado seu pescoço a muito tempo.
Kael olha para lamina e cospe. Vira as costas e antes de sair da sala, diz:
-Vou deixar as cadelas lamberem as feridas.
Katetsu recolhe a espada, e antes de colocá-la na bainha a limpa na barra da capa.
-Chega por hoje, façam acampamento aqui mesmo, eu irei para outro aposento longe do seu companheiro perturbado.
-Nós agradecemos pela atenção. _diz Lydan.
-Vocês vão precisar de muito mais de mim se quiserem realmente seguir o mesmo caminho que eu.

Tsurugui se ergue da poltrona, seu corpo coberto por uma capa negra parece maior quando se encontra em pé. Ele ajeita a máscara e joga os cabelos grisalhos para trás, pega a bengala apoiada no braço do móvel e manca até a porta, passando por entre os generais.
-Uma ultima pergunta, velho. _indaga Pyro, um pouco antes dele passar pelo portal.
-Diga, jovem.
-Se voce e o Katetsu são da mesma classe, porque ele usa vermelho e você preto?
=Você não pergunta a um cão porque ele é maior que o seu semelhante, nossas cores são apenas traduções de algo que não precisa ser dito..
Apesar da mascara cobrir sua boca, todos entenderam o som da risada ironica que saiu dela assim que ele saia porta afora.

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